“É
muito fácil ser pedra. Difícil é ser vidraça”. Esse é um provérbio chinês, mas
bem que poderia ser o epitáfio grafado na minha lápide. Porque só quem dá a
cara à tapa sabe a dor de ser vidraça.Viver de expor
opiniões, de quebrar tabus e de tentar disseminar pensamentos um pouquinho mais
liberais em uma sociedade ainda muito preconceituosa pode parecer um trabalho
fácil. Afinal, quem não gostaria da boiada de poder escrever um texto sobre sexo
sentado no conforto do seu sofá, com a TV ligada na Sessão da Tarde, e ainda de
quebra ganhar alguns milhares de seguidores no Facebook? Acontece que as coisas
não são bem assim, meu caro. E nesse momento, vem a calhar uma frase que minha
mãe me dizia sempre que eu reclamava de ter que cumprir alguma obrigação nessa
nada mole vida: se quer moleza, minha filha, senta no pudim.
Nessa
vida, todo mundo nasce com livre arbítrio. E há os que usam dessa liberdade
para escolher sentar no pudim. Conheço punhados deles. Gente que sempre se
exime de dar opinião – afinal, ficar em cima do muro parece menos arriscado do
que saltar para um dos lados. Que se puder ir no embalo das ondas, maravilha –
“deixa a vida me levar, vida, leva eu”. Que não se joga de cabeça em nada do
que faz, porque há a chance de dar errado. Que usa um batonzinho cor da pele,
porque batom vermelho é coisa de puta. Que prefere um cafezinho morno, porque o
quente queima a língua e o frio é ousado demais. Que prefere uma comidinha sem
tempero, porque pimenta arde demais a boca, alho deixa bafo e sal aumenta a
pressão. Que prefere um verde-musgo a um verde-sinuca, porque o verde-musgo é
mais discreto, mais social, mais versátil. Ah, se eles soubessem como a dor de
ser vidraça deixa cicatrizes bonitas na gente…
E
nos deixa mais fortes. A minha vidraça, hoje, já é blindada, de tanta pedra que
tomou. Dos machistas, dos misóginos, dos conservadores, dos reacionários, dos
defensores da moral e dos bons costumes. Enfim, de toda essa gente que vive
podando a felicidade alheia. E é aquela velha história: o que não mata
fortalece. É preciso coragem para dar a cara à tapa e se dispor a tomar umas
pedradas? É claro. Mas vale a pena – quem já chegou lá garante. Portanto, deixe
o medo de lado. #1minutodecoragem pode mudar a sua vida. #1minutodecoragem pode
ser o que você precisa para deixar seus dentes cravados na maçã vermelha, suas
unhas cravadas na carne dele, sua marca cravada no planeta Terra.
E
para aqueles que, ainda assim, insistem em jogar pedras, um recado final: suas
pedras de recalque batem na minha vidraça blindada e voltam para vocês em forma
de germes, mau hálito e placa bacteriana.
By CSV
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