Sabe aquela história de ossos do ofício? Então, com o passar do
tempo de atendimento clínico, ganhei um certo traquejo para identificar alguns perfis
de personalidade que
me orientam na maneira de conduzir o problema que alguém traz. Há algumas
perguntas básicas que podem dar pistas valiosas sobre como você encara a vida e
como se relaciona com as pessoas à sua volta.
Quero compartilhar algumas dessas questões que, embora pareçam
simplistas por provocarem raciocínios binários, abrem caminho para perguntas
mais profundas sobre a sua personalidade. Não tenha a ingenuidade de tomar isso
como definitivo, mas como o pontapé inicial para uma reflexão que vai levá-lo
aos labirintos complexos da sua mente.
Está pronto? Então vamos lá. Pegue um papel e uma caneta, respire
fundo e responda com honestidade – e não como gostaria que as
coisas fossem.
1. O que você pensa da vida?
A) Ela é um caminho que precisa ser planejado com calma, buscando
cada decisão de maneira cuidadosa e pensada. Não gosto de mudanças repentinas e
fora do meu controle. Prefiro fazer
planos e
sentir segurança sobre o amanhã.
B) A vida é uma jornada sem garantias. Sigo como se as pistas
fossem sendo dadas ao longo do caminho e ouço meu coração. Gosto de respirar o
momento presente e sei que tudo está garantido. O prazer é meu guia e não
admito viver sem fazer aquilo de que gosto.
2. O que você acha do amor?
A) Gosto de me entregar de cabeça e viver meus sentimentos com
honestidade. Acho que as pessoas podem se apaixonar em situações inusitadas e
não tenho dificuldade em me entregar.
B) Imagino que um relacionamento é algo tão importante para uma
pessoa que não devemos agir impulsivamente. Gosto de pensar com tranquilidade e
confesso que desconfio sobre a seriedade das pessoas. Elas acabam em algum
momento traindo nossa confiança e, por isso, prefiro viver minha vida de forma
independente. Relacionamentos sérios não são a minha
prioridade.
3. Como lida com o dinheiro?
A) Gosto da sensação de segurança ao olhar minha conta e ver que
minhas contas estão em dia e que tenho uma boa reserva. Não me incomodo em
adiar uma compra e fazer planilhas se necessário para garantir um futuro
agradável e estável.
B) Não sou apegado aos bens materiais, gosto mais da liberdade que
a vida oferece. Não acho que preciso fazer grandes compras por mês e sempre dou
um jeito e pago minhas contas. Confesso que tenho um pouco de descaso e sou
descuidado das minhas finanças.
4. Qual sua visão de trabalho?
A) O trabalho não é a coisa mais importante da minha vida, afinal
ele é um jogo que as pessoas alimentam e que pode acabar te aprisionando. Fora
dali tudo é mais divertido e interessante.
B) Minha vida está focada no trabalho e ele me realiza
completamente. Poderia passar muito tempo envolvido nas tarefas a cumprir.
Tenho um plano de
carreira claro
para atingir meus objetivos profissionais. Trabalho é meu lema.
5. Qual o seu legado?
A) Viver a vida em sua plenitude. Quero experimentar um pouco de
tudo e viver intensamente. Meu legado sou eu.
B) Quero deixar um exemplo de vida e contribuir para o crescimento
das outras pessoas usando de minhas habilidades e deixando algo de valioso para
as futuras gerações.
Interpretações
Respondido? Agora vamos a uma breve interpretação do que
pode significar cada uma das suas respostas:
1. Se você respondeu A, talvez você tenha uma personalidade mais
orientada por regras e o senso de dever. É possível que sua vida seja bem
estável e sob controle, o que possibilita navegar com certo grau de
previsibilidade. Por outro lado, é provável que você tenha dificuldade de
realizar mudanças ou aceitar situações inesperadas ou que contrariem suas
expectativas. Um desafio para você seria desenvolver apreciação pelo momento
presente e pela conexão com pessoas e sentimentos – e não apenas por estruturas
racionais da vida.
Se você respondeu B, talvez você tenha uma personalidade mais
orientada pelo prazer. É possível que seja muito carismático, querido e
comunicativo; no entanto, nem sempre conseguirá cumprir completamente as
tarefas até o fim ou se engajar em algo de longo prazo e até perderá boas
chances pessoais por causa disso. Uma sugestão? Tentar dividir grandes tarefas
em pequenas para atingir planos de longo prazo.
2. Se você respondeu A, seu estilo de envolvimento pode ser
apegado. Sua capacidade de envolvimento é alta e você consegue dizer o que se
sente, mas talvez se torne excessivamente ansioso para entrar num
relacionamento e acabe ficando dependente de cada movimento do parceiro. Uma
dica: desenvolva mais autonomia e entenda que os relacionamentos amorosos não
são a única fonte de nutrição emocional.
Se você respondeu B, seu estilo de relacionamento é
evitativo. Sua capacidade de analisar racionalmente e até desejar um
relacionamento muito rico é admirável, mas de outro lado é possível que ninguém
se encaixe nas suas idealizações e, por isso, você acabe acreditando que
relacionamentos não são para você. Não seria uma má ideia abaixar a guarda e
deixar que alguém toque você – mesmo que não seja tudo perfeito.
3. Se você respondeu A, sua relação com o dinheiro pode ser mais
acumuladora. Isso lhe permite fazer planos e construir um patrimônio sólido –
no entanto, você pode perder a capacidade de fluir na vida e se arriscar para
além do seguro e, sem perceber, se sentir acorrentado na ideia de que a única
fonte de segurança é o dinheiro. Vale um esforço para investir dinheiro e tempo
para além das obrigações e se divertir com ele sem tanta antecedência.
Se você respondeu B, talvez seja gastão. De um lado, pode curtir
com mais facilidade a vida, mas nunca poderá construir algo de longo prazo e
nem fazer planos com outra pessoa. É possível que se endivide e até sofra
consequências ruins na sua vida pessoal. Aí o prazer acaba não sendo tão bom.
Uma dica é buscar alguém que tenha a capacidade de ajudar você a criar uma
reserva para continuar usufruindo o prazer, mas ao mesmo tempo ficando seguro
no futuro.
4. Se você respondeu A, o trabalho é um meio para experimentar a
vida. Isso deixa você mais focado em pessoas e realizações pessoais. É provável
que você até sinta uma liberdade frente ao formalismo exagerado do mundo
contemporâneo, mas ao mesmo tempo pode se sentir descolado se tiver que se
enquadrar em meios que pedem rotina e protocolos. Se você tem realmente
liberdade interior pode se dedicar também a entrar um pouco nesse universo do
trabalho e desenvolver habilidades importantes para você como pessoa.
Se você respondeu B, o trabalho é um fim em si mesmo. Sua
capacidade de se focar em resultados e viver grande parte do seu tempo lidando
com desafios profissionais o levará longe. De outro lado pode ficar com o olhar
viciado no trabalho e perder de vista as pessoas que o cercam e até ficar preso
num script excessivamente técnico e distante, impedindo de se divertir em
ambientes menos estruturados. É valioso pensar na possibilidade de estabelecer
uma conexão com pessoas queridas e pedir para que sejam guardiãs desse
equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
5. Se você respondeu A, seu olhar é mais hedonista. A inspiração
que causa nas pessoas é imediata e energética, certamente provoca interesse
imediato. No entanto, pode ficar muito focado nas suas vontades e perder de
vista os outros pelos outros, sem interesse imediato. Tente exercitar um olhar
para o futuro e realmente se preocupar com os outros sem que isso implique
necessariamente em um benefício pessoal.
Se você respondeu B, sua forma de ver o mundo é
mais altruísta. Sua capacidade de se dedicar aos outros é adorável, e
conviver com você é sempre uma oportunidade de aprendizado. Em contrapartida,
você pode ficar muito obcecado em se desenvolver, e isso pode tirar sua leveza
e espontaneidade. Um exercício seria cuidar um pouco de si mesmo sem alegar que
é egoísta e sem se sentir culpado.
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