>Aí você pega na mão dela. A que está livre do drink ou da
latinha de cerveja.
E a tira pra dançar. Um forró, uma salsa, um samba a dois. Algo que sirva como um belo
pretexto pra deixar os corpos assim, bem coladinhos. Que é pra
você já sentir quantos miligramas de sal por litro tem o suor dela. Ou a
quantos batimentos
por minuto trabalha
o coração dela. Ou se o cheiro dela é amadeirado, cítrico, floral, frutal, uma
mistura disso tudo ou uma combinação de nada disso – até porque eu aposto uma
rodada de cerveja que você não sabe a diferença entre essas porras todas. E se
uma só música não for suficiente pra toda essa análise
quântico-químico-corporal, dança mais uma. A noite é uma criança, dizem os
sábios, que sempre são boêmios. E a próxima música é boa, dizem os sensatos.
Porque quem não gosta de Caetano, pra mim, é porque falta um parafuso. E é
Caetano cantando a menina do anel de lua e estrela, que definitivamente não é a
moça que dança contigo. Mas que se fodam os anéis – no final da noite, o que
ficam mesmo são os dedos.
E se tem um time de
futebol que
joga bonito no mundo, ah, meu filho, são os dedos. Nada de seleção brasileira,
nada de Barcelona, nada de Corinthians. Convocação boa mesmo é mata-piolho,
fura-bolo, pai-de-todos, mindinho e seu-vizinho. Então coloca todos eles pra
entrarem em campo – seja deslizando suavemente sobre as costas dela, seja
segurando com firmeza aquele braço desnudo enquanto vocês caetaneiam, seja
empunhando a latinha de cerveja enquanto ela vai ao banheiro. E quando Caetano
terminar de falar, aí, sim, você começa – afinal, dizem por aí que o verdadeiro
sábio é aquele que sabe escutar em vez de simplesmente esperar a sua vez de
falar. Pode começar perguntando o nome dela – o nome que você vai repetir duas
ou três vezes enquanto ela te morde o pescoço na cama de um motel barato. Ou
elogiando o sorriso que com certeza ela, moça sensata, abriu quando Caetano
começou a cantar. Ou sugerindo um brinde, e quando ela perguntar a quê,
simplesmente responda: ao nosso encontro.
E então pede um beijo, porque um beijo é uma reza prum marujo que se preza.
E aí, se assim ela quiser, vocês rezam. E que sejam feitas as vossas vontades,
assim na Terra como no céu. Todas elas, sem exceção. Com aquele capricho que o
diabo gosta. E que ela não se deixe intimidar por aquele papo idiota de gente
mais ocupada com a vida alheia do que com o próprio gozo e,
caso sinta vontade, não tenha vergonha de convidá-lo pra terminar essa dança
com o traje de
gala mais
especial de todos: aquele com os quais todos nós viemos ao mundo. Que, então, a
sua barba deslize pelo pescoço dela. E que a língua dela deslize pelo seu
peito. E que as roupas, de alguma maneira mágica e inexplicável (provavelmente
devido ao teor alcoólico do sangue de vocês), deslizem para o chão. E que vocês
se mordam, se molhem, se esquentem, se esfriem, se transpirem. E se inspirem
pra, talvez, começar tudo de novo no segundo seguinte. Ou no minuto seguinte.
Ou na manhã seguinte.
Porque quando você finalmente entende o que é química, você
descobre que entrelaçar bons corpos nunca é demais. Que uma troca de olhares é
capaz de arrepiar os pelos da nuca. Que um toque despretensioso provoca
terremotos. Que um beijo demorado, assim, bem devagarinho, inicia um incêndio.
Que gozar é coisa que a gente faz com o corpo inteiro. E que gente de bem não
transa pra apagar fogo nenhum – gente de bem é aquela que abre os braços e se
deixa consumir pelas labaredas. Ou você prefere mesmo continuar aí, no morno
conforto do seu sofá?
By CVS
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