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terça-feira, 7 de julho de 2015

SEXO BAREBACK NO PORNÔ É UMA APOLOGIA AO RISCO?


Último produtor de pornôs gays cede: fará filme com casal transando sem camisinha e reacende discussão


Ano passado, o produtor de filmes pornôs gays Michael Lucas declarou em uma entrevista que jamais produziria um filme com cena de bareback. “Se eu produzisse filmes com cena de transa sem camisinha, ficaria milionário”, ironizou. Pois esse que talvez era o último a resistir a essa demanda cedeu. Semana passada, a Lucas Entertainment divulgou uma cena com o título “Estreia de sexo bareback com os astros exclusivos Seth Treston e Billy Santoro”. Os dois (na foto) são um casal na vida real. Esta será apenas a primeira em uma série de performances sem camisinha.

No fim do mês passado, a industria porno em Los Angeles foi paralisada depois que uma atriz anunciou estar infectada com o virus HIV. Pouco depois, um de seus parceiros, ator de filmes pornôs gays,anunciou também ter contraído a doença. Pânico. A indústria da pornografia hétero nunca se prestou a metodicamente colocar camisinha em seus atores, algo que no entanto era padrão entre os filmes gays. Até que começou a se fetichizar as transas sem proteção.

O próprio release sobre esse novo filme já investe nisso: “a compreensão física e o bem-estar sexual que vem de estar com um parceiro da vida real transparece nesta cena”, descreve. “Seus beijos apaixonados, socadas profundas, e conforto ao compartilhar porra não deixam dúvidas de que há uma conexão intensa entre Seth e Billy.”

Eu preciso de ajuda para destrinchar essa questão toda.
Usar um casal “de verdade” não resolve o problema, já que eles continuam sendo atores pornôs, e portanto não são sexualmente monogâmicos. Duvido que será a última performance deles sem camisinha. Então tentar usar um casal de namorados para suavizar a situação é conversa para boi dormir.
Por outro lado, eles são adultos e sabem o que estão fazendo e os riscos que correm.
Se anos de filme pornô realmente ensinasse a juventude punheteira que tem que usar camisinha sempre, a transmissão de HIV teria parado faz tempo.
Mas ver trepadas sem preservativo pode também transmitir a mensagem de que isso é algo sem consequências, banal e, como vende o release, mais gostoso, um sinal de conexão verdadeira.
Tentar pintar na pornografia uma realidade em que todo mundo transa com camisinha é exibir um mundo tão falso quanto o em que seu encanador é sarado e vem realizar o serviço sem cueca e de pau duro.
Pode ser que exatamente a sensação de estar vendo algo “que não deveria estar acontecendo” é o que dá mais tesão em quem assiste a uma cena bareback: o que é proibido é mais gostoso.
E se não houvesse uma demanda por esse tipo de cena, ela não seria feita.
Usar camisinha para o resto da vida não é um prognóstico empolgante.
Uma das vantagens de se ter um relacionamento longo é poder confiar em alguém o suficiente para transar sem proteção.
As pessoas traem e mentem.
Pegar HIV é ruim e deve ser evitado a todo custo.
Mas ter HIV não significa o fim da vida, da capacidade de amar e ter tesão.

Héteros nunca levaram a sério os riscos da Aids – a preocupação (quando existe) é por engravidar, e costuma-se jogar essa responsabilidade no lombo da mulher. Há muita gente por aí que já perdeu a mãe para o HIV porque o pai pulou a cerca sem ter a consideração de encapar o pau pela esposa. Os gays levavam o risco a sério, mas cada vez mais parece que o raciocínio é de que não há problema em se tomar AZT todo dia pelo resto da vida.

Existe o argumento de que não há o que se fazer porque sexo sem camisinha é mais gostoso mesmo e pronto. Eu concordo mais com a hipótese de que na verdade não há diferença na sensação – se houvesse um amortecimento tão grande assim, na hora que uma camisinha estourasse quem está metendo perceberia imediatamente, o que estamos cansados de saber que não ocorre. Mas muito do prazer está no cérebro, então quem se convence de que trepar sem capa é melhor vai achar que é melhor para sempre. Mesmo tendo que encarar o pânico de abrir o resultado do exame de sorologia repetidas vezes.

Quando um casal (ou trio, ou equipe) vai em frente e fode sem camisinha, está ciente do que está fazendo? Está pesando os prós e os contras, os riscos e as vantagens do ato e tomando a decisão que acha mais certa? Tratar o uso de preservativo como uma questão de tudo ou nada é como insistir para que os jovens só façam sexo depois do casamento: um extremismo que só causa mais desinformação?

Como eu já disse no Lado Bi da Pornografia, eu acho todo esse lance de bareback um erro. E pessoalmente não tenho a intenção de parar de usar preservativo jamais. Mas posso ser um dinossauro precoce com um comportamento que simplesmente não faz mais sentido para as novas gerações.

By Marcio Caparica

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