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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Amor, eu estou gorda? – Minha saída para a Pior de todas as perguntas

Amor, eu estou gorda? – Minha saída  para a Pior de todas as perguntas

“Amor, eu estou gorda?”. Eu sabia que esse dia chegaria, não esperava, no entanto, que fosse tão de repente. Meus amigos comentavam sobre isso e como suas mulheres agiram após terem a resposta daquela questão – Deus tenha piedade de minha alma, assim como teve com a de Roberto, vulgo “Guerreiro”, pois era o cara que expunha com sinceridade sua opinião para sua esposa. Sinto sua falta na mesa do bar até hoje.
“Hein, amor, estou gorda ou não?”. Droga, ela queria ouvir algo, e minha cabeça se concentrava somente no livro que lia. Parei por alguns minutos e a analisei de longe, sentado no sofá. A verdade era uma só: Ela estava acima do peso, apenas. Não gorda de um modo preocupante, mas havia ganhado peso em relação à época que nos conhecemos, pois sempre fora magra. Estava curvilínea. Nada que a fizesse ser a nova Bridget Jones ou a parceira do Asterix.
Resolvi pensar: Se eu dissesse “sim, um pouco”, desencadearia dúvidas na cabeça dela, inclusive, uma insegurança com o próprio corpo. Podia ver o nosso namoro afundando, ela se medicando com remédio para emagrecer, comprando produtos com o rosto da Luciana Gimenez estampado e eu acabaria num hotel escrevendo crônicas sobre minha frustração; se dissesse “não, está igual a quando nos conhecemos” seria um mentiroso, e ela perceberia, desconfiaria da minha sinceridade ao longo do relacionamento, perguntaria se eu já olhei com desejo para Giovanna, amiga dela que era cobiçada por nove entre dez pedreiros – porque um estava almoçando-, dar-me-ia um tapa na cara e iria embora me deixando Frederico, nosso papagaio. Sei que pareço exagerado, no entanto, pense nas reações intempestivas das mulheres. Pensou? A verdade é que pouco me incomodava uma gordura a mais ou a menos, nem a celulite ou estria. Nossa relação dizia por si só. Contudo, não era isso que ela queria ouvir, desejava algo concreto, uma palavra que a completasse, desse um sentido aquilo que era mostrado pelo espelho. Por que o telefone não toca nessa hora e interrompe tudo?
“Amor, você está me escutando?”. Era a hora, não poderia mais enrolar, tinha que ser corajoso e encarar meu destino, suportar o peso da minha decisão. Decidi ir até o nosso quarto e encará-la; a caminhada pelo corredor que separava a sala de TV e os outros cômodos era como se eu fosse em direção a minha sentença de morte (mais clichê, impossível). Injeção letal ou gás? Apostava mais num estrangulamento.
Estava apenas de calcinha, virando-se de um lado para o outro, levantando sutilmente a ponta do pé, e, quando parava, apertava-se na altura da cintura. Eu a admirava. “Está vendo? Aqui, ó… Esse pneu”, e permaneci em quieto. “Responde! Estou gorda ou não?”. Já havia testado a paciência dela demais. Então, com o pouco de inteligência que me sobrou, pensei na única coisa que confrontaria aquela pergunta. Abaixei shorts e cueca, disse-lhe: “Só se me responder: Acha meu pinto pequeno?”. Entreolhamo-nos, pesamos a situação mentalmente; tornou a passar seu creme, enquanto eu retornei para o meu livro. Na obviedade do silêncio, nós nos amamos.
By CSV

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