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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Eu Não Me Depilo. E Daí?



Eu Não Me Depilo. E Daí?

Noite de sábado, nenhum programa especial à vista. É quando a gente reúne as amigas pra um papo calcinha que começa em lamúrias sobre a vida profissional, passa por religião, boom imobiliário e relacionamentos amorosos para terminar em… pelos. Por mais que tivéssemos discutido sobre coisas muito mais desagradáveis, notei que quando o assunto era ‘pelo’ elas não gostavam da ideia – alegavam que pelos são sujos e nojentos. Eu, como a minoria, ria sem graça e logo mudava de assunto para não causar polêmica.
Segui meus dias questionando: por que tamanha repulsa aos pelos?
E hoje estou aqui para confessar. Tenho 21 anos e sou adepta ao estilo Sonia Braga na década de 80, ou seja, não me depilo. Não mesmo. E já imagino os comentários que seguirão. Coisas do tipo: “como você consegue? Não tem medo do homem ficar com nojo na hora do oral? Não acha que é feio na nossa década?”. Entre outras baboseiras mais, um tanto quanto ofensivas.
São tantas as perguntas para uma resposta tão simples: gosto dos meus pelos. E isso não me faz mais suja ou menos limpa do que você, que vai religiosamente ao salão uma vez a cada duas semanas. Acredite: eu gosto de ser assim!
E como se não fosse suficiente infernizar a vida das mulheres, o fantasma da depilação também vem tomando conta das rotinas de alguns homens, aqueles que os ~másculos~ enchem o peito para chamar de viadinhos. O que me leva ao seguinte dilema: por que as mulheres que não se depilam são tachadas de sujas e os homens que se depilam, de mulherzinha? Por que mulher se depilar é certo, e homem se depilar é errado? Por que uma vagina carequinha é bela e um saco pelado é feio?
Essa mania de ultravalorizar os esforços femininos em prol da ~beleza~ e hostilizar quando um homem faz o mesmo é fruto de uma cultura que trata o masculino como primitivo e legítimo e o feminino como objeto de desejo e de decoração.
Em uma conversa com um grupo de amigos, ouvi alguém dizer que a depilação está em voga por causa de estímulos visuais. Que olhar uma buceta raspadinha é mais agradável do que olhar uma peluda. Eu só lamento, porque tudo o que vejo nesse tipo de discurso é uma ode à padronização. Como se fôssemos produtos fabricados por uma máquina e sujeitos ao descarte ao sinal da menor diferença – que, muitas vezes, é considerada um defeito. E aí vejo um retrocesso. Porque propor a padronização da vagina perfeita é tão vintage quanto o preconceito.
Ainda assim, a esperança é a ultima que morre. Por isso, me apego ao amor aos meus pelos e aos dos outros para quebrar três mitos sobre os tão indesejados cabelinhos.
1. Mulher que tem pelo é suja.
É muita tolice acreditar que pelos são sinônimos de falta de higiene. Muito pelo contrário. Os pelos foram feitos para a proteção do corpo, e a chance de se contrair alguma doença causada por um micro-organismo nocivo é bem menor quando se mantém com carinho os pelinhos.
2. Depilado é mais bonito.
É questão de gosto, tem quem gosta e quem não gosta. Impor a depilação sobre pelos alheios que é feio. Portanto, se saiu uma vez com a menina e se incomodou com os pelos dela, pense duas vezes antes de apontar a não depilação dela como a causa para a coisa não fosse pra frente. Olhe para si mesmo e lembre-se que o preconceito, geralmente, é o que limita as relações humanas.
3. Homem que é homem não se depila.
O homem tem total liberdade para gostar ou não de seus pelos e não vai ser menos homem por optar pela depilação. Pelo contrário: estar disposto a aguentar a dor de uma cera é, talvez, um indício de coragem que nem todo homem tem.
Por fim, a questão não é deixar ou não os pelos, mas sim respeitar as diferenças. E entender que pelo não é sinônimo de virilidade e que você não é Sansão, para perder a força conforme abre mão dos seus cabelos.

By Amanda

1 comentários:

  1. Perfeito seu texto querida, triste e não ver ainda nenhum comentário nele, se fosse sobre a nova gilette ou alguma nova tendencia de tirar as sombrancelhas porque assim e mais bonito, existiriam vários comentários chovendo no molhado aqui.
    O que não entra na minha cabeça é o fato que no inicio dos anos 90 e em toda história da humanidade isso nunca foi problema, nunca! Hoje eu sou considero louco, e adoro esse titulo por ser apaixonado por mulheres femininas e peludinhas, e um pouco frustado por ter nascido no pais e época errados.
    O Brasil quer queira quer não tem a tendência de copiar padrões norte americanos e todas a sutis imposições que o mercado capitalista ditar, aqui ele encontrar uma legião de fãs pra seguir, isso vai do funk sotentação, copia do Rap pós anos 2000, as imposições dos padrões de beleza femino.
    É simples perceber, o bonito é ter o peito grande, logo as que não tem podem gastar seus recursos e investir em silicone.
    O bonito agora e ser magérrima, o biotipo da mulher brasileira não vai muito de acordo com isso de uma forma geral, mas você pode novamente gastar dinheiro e se adequar.
    Pelos são nojentos, logo a cada esquina tem uma clinica de depilação total e mais dinheiro sendo investido para mudarmos o nosso corpo que já é lindo e único, mas que essa maquina de processar e enlatar pensamentos atitudes e pessoas fazem com que perdemos a pureza de olhar o outro como ele é.
    Irônico isso e comecei minha carreira como modelo, e todo meu mundo em volta gerava em torno disso, ao entrar no teatro, sim alguma ou outra cabeça mais aberta a isso, mas é no dia a dia que vemos o quanto tudo e enlatado roterizado, a coisa que acho mais linda no mundo, o corpo da mulher como ele é, com suas perfeitas imperfeições e seus pelos animais, livres femininos eu nunca encontro pra poder desfrutar, e isso me causa certa frustação.
    Adorei ler seu texto e gostaria de conversar mais.
    cdjbreda@yahoo.com.br

    Meu nome é Davi, e fiquei feliz de encontrar seu blog por aqui, um super beijo querida.

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