Hoje
parada à espreita de ir embora eu te convencia a largar a maçaneta da porta e
trancá-la somente com o peso dos nossos corpos. Escorrendo pela porta em
direção ao chão frio, a gente desnudava o corpo, a alma, e principalmente a
liberdade de gozar pelo ouvido. Palavras encharcadas de devassidão
ditas ao som do respiro mais próximo, quente, eloquente…
Dentro de nós havia uma urgência de nos
comermos ali mesmo, sem pudores e receios de nos acabarmos. Como uma dupla
sertaneja éramos refeição e sobremesa, beijo e culpa, depravação e carinho. Mas o prédio inteiro não
precisava ouvir o som do nosso canto íntimo.
Cúmplices no mútuo desassossego de
sermos pegos naquele momento, nos cozinhávamos em silêncio,segurando o ranger da
porta e instigando a mudez dos gemidos com beijos prensados e contínuos.
Naquele momento o tesão tornava-se gostoso pelo receio consciente de talvez
sermos descobertos ali ao chão, nos devorando, sem pressa…
Como
resquício de uma noite inesquecível ficamos deitados ali no chão, divagando sobre
e sem fôlego, planejando uma próxima loucura. Tínhamos uma relação atípica, que
não precisava de cama, nem de calma, somente de uma porta mal trancada…
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