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segunda-feira, 10 de março de 2014

Se a calcinha está no chão… – Manifesto por menos timidez na hora de tirar a roupa

Se a calcinha está no chão… – Manifesto por menos  timidez na hora de tirar a roupa

Na praia, famosas mostram curvas perfeitas de biquíni. Li essa manchete ontem. Na internet, ambiente povoado por gente jovem em busca de conhecimento, sacanagem, interatividade, inspirações e o caralho a quatro. Em um dos grandes portais de ~notícia~ brasileiros. E foi inevitável, além de clicar para ver a ~perfeição~dos corpos,  imaginar: se o editor soubesse o desserviço que ele prestou à humanidade em pouco mais de cinquenta caracteres, ele passaria essa noite em claro, pedindo perdão por tamanha estupidez até em esperanto.
Beira o insuportável a pressão para que tenhamos corpos magros, bonitos e com as carninhas no lugar certo. Outro dia mesmo, eu, Bruna G., 24 anos, 1,58m e 50 quilos, me peguei em frente ao espelho apertando gordurinhas, encolhendo a barriga, emendando uma série sequencial e desesperada de cem abdominais e considerando seriamente a ideia de entrar na dieta do shake da Luciana Gimenez. Como se cada gordurinha fosse uma inimiga. Como se cada celulite fosse um motivo a mais para a minha infelicidade. Como se cada estria fosse uma doença a ser combatida. Como se o corpo, que é o nosso templo, fosse a nossa prisão. Em regime fechado e aguardando na fila da cadeira elétrica.
E é graças a todo esse desconforto com relação à nossa aparência que deixamos de ir à praia, de sair de casa com aquela roupa confortável, de pular na piscina naquele final de semana no sítio e de, entre outras coisas, gozar. Sim, de gozar. Algumas porque ficam tão paranoicas com o próprio corpo que, em plena hora H, priorizam a posição que esconde a barriguinha em detrimento da posição que leva a um orgasmo mais intenso . Outras porque nem se permitem chegar até o estágio de tirar a roupa – ah, está tarde demais; ah, meu sobrinho ficou sozinho em casa; ah, amanhã eu acordo cedo; ah, ainda tenho que fazer a tarefa de Direito Penal.
E aí a gente nega. Nega a vontade porque tem vergonha de ser quem é. Bate a porta na cara da felicidade porque ser magra vem muito antes de ser feliz. Recusa o prazer porque não cumpre o pré-requisito básico que diz que todo deleite só é legítimo quando sentido por gente loira, magra, alta, dos peitos grandes, da barriga negativa e da pele bronzeada. Afinal, se a magrinha está feliz, é porque deve estar de amor novo. Mas gordinhas… Ah, gordinhas só ficam felizes com um prato de macarronada. Ou quando alguém resolve fazer ~a boa ação da semana~ – bradam os invejosos.
Chega, gente. Chega. É passada a hora de dar um basta em todos esses padrões preconceituosos e estúpidos que ditam a hora, o lugar, as circunstâncias e quantos quilos a gente precisa estar pesando para ser verdadeiramente feliz. Para ter o direito de amar e de ser amada. Para gozar de verdade. Independente de quantas celulites você tiver na perna, você merece – e pode – ser feliz. Independente de qual é o seu sobrepeso – ou subpeso – você merece – e deve – ser feliz. Independente de qual o número do seu manequim, você merece – e vai – ser feliz.
Porque vergonha não é ser gorda. Nem ser magra. Nem ter estria. Nem não ter peito. Nem ser peluda. Nem ser pelada. Vergonha é roubar doce de criança e bater em pai e mãe.

By Bruna Grotti

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