Doa
a quem doer, é uma realidade dada e reconhecida universalmente: todos os homens
mentem, sem exceção. Mentiras de nível grave, médio ou brando, mas todos
mentem. Mulheres que são alvos da mentira sempre reagem de forma indignada
quando a descobrem – como se nunca tivessem sido autoras de alguma. Reagem como se fosse um ato sujo, repugnante e sem perdão.
Talvez porque a honra e a invencibilidade não sejam valores superestimados no
universo feminino. E também porque os motivos pelos quais os homens mentem são
diferentes.
Como bom psicólogo, meu papel é tentar
olhar para a mentira para além do julgamento moral e entender o que os homens
tanto tentam ocultar com suas “versões da realidade”. Posso parecer advogado do
diabo, mas são apenas os ossos do ofício. Entre idas e vindas no universo
psicológico masculino, pude notar dois tipos de mentira. São elas:
Mentira por Ocultação
Nesse caso, existe uma porção da
realidade que foi diminuída, mascarada ou dissolvida para que parecesse menos
ruim. Era uma realidade que ele considerou pesada e indigesta para ser expressa
num certo contexto. Provavelmente o homem queria ser percebido como menos tolo,
desonesto, fraco ou vulnerável do que realmente foi. Esse é o resultado da
cultura machista – amplamente alimentada em quase todas as esquinas – que tenta
sustentar o homem como uma figura de poder invulnerável e oprime o próprio
“imperador” com seu cetro quebrado.
Mentira por Acréscimo
Nesse caso, como as lendárias
histórias de pescador que o seu tio insiste em contar, a realidade é mais
pálida do que que a desejada. O homem se percebe insuficiente ou incapaz e
imprime mais colorido os acontecimentos para projetar uma imagem idealizada de
si. Uma pitadinha de imaginação, nesses casos, faz até história de bêbado
acidentado virar enredo digno de Hollywood.
Em qualquer um dos dois casos, o receio é
o mesmo: não ser aceito por aquilo que é ou faz. É o próprio homem que não
consegue administrar o peso do contraste entre a realidade cheia de
falibilidade e o ideal que projetou para si.
O problema é olhar a mentira sob a ótica
da vítima, como se a única responsabilidade fosse do autor. Em qualquer
conversa ou relacionamento, existe um jogo de forças ocultas que se move de um
lado para o outro e, embora seja uma realidade dolorosa para aqueles que
insistem em se vitimizar em toda e qualquer circunstância, a verdade é que
o ouvinte também cria o contexto para a mentira. Existem pessoas bem
frágeis para lidar com uma realidade dura, e outras que, pela rigidez e
implacabilidade, oprimem de antemão as verdades alheias. Ao exigir
verdades, muita gente está apenas evitando provar o gosto por vezes amargo da
realidade.
Nem questiono a honestidade do conteúdo
transmitido, mas até que ponto as mulheres gostariam de ouvir de seus parceiros
que eles possivelmente conciliam transas fugazes – que servem como
autoafirmação – com amor e tesão por suas parceiras? Homens e mulheres teriam
dificuldade de encarar as coisas da forma como elas realmente se mostram.
Como seres humanos repletos de vaidade,
somos contraditórios, inconstantes, instáveis, volúveis e confusos. Condenamos
a mentira com muita frequência, mesmo sabendo da incoerência existente entre o
que somos, fazemos e falamos. Será que, no retrato final que as pessoas
guardarão sobre nós, deixaríamos que cada marca, ruga ou imperfeição moral
fosse registrada para a posteridade?
Deixo a reflexão com vocês.
By Frederico Matos
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