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segunda-feira, 22 de abril de 2013

A Hora de Sair do Armário


Para o homem é infinitamente mais difícil reconhecer, aceitar e expressar a sua “face de humanidade” no mundo exterior. O macho é preparado para ser um obreiro eficiente, um soldado voraz, um líder “moralmente irreprovável” e outras besteiras do tipo. A nenhum homem é dado o direito de ser uma “pessoa humana”, com plena liberdade de expressar seus sentimentos e seus desejos mais íntimos, sem o perigo de ser chamado de “maricas”, “boiola” e outras grosserias do mesmo naipe. Há enormes preconceitos, interdições e obstáculos sócio-culturais para a livre expressão do homem – qualquer homem – em qualquer aspecto ou área da vida em sociedade. No caso de homens transgêneros, então, esses impedimentos são ainda mais graves e opressivos do que para os homens em geral.
Embora ninguém precise necessariamente travestir-se para expressar sua transgeneridade (há muitas formas possíveis de se fazer isso), a verdade é que o travestismo é a prática mais comum na vida das pessoas transgêneras. O crossdressing, ou seja, travestismo, chega a ser emblemático da condição transgênera, ao ponto de uma coisa ser tomada pela outra. Homens transgêneros são vulgar e pejorativamente chamados de “homens vestidos de mulher”.
Mas só quem é transgênero conhece a angústia insuportável que nos aflige quando não conseguimos expressar externamente aquilo que sentimos por dentro. A roupa, o calçado, a maquiagem são os veículos mais elementares e mais “à mão” para a gente expressar o nosso sentimento de inadequação ao gênero em que fomos “enquadrados” ao nascer.
- “Imagine o que a minha esposa diria se me visse vestido de mulher, da cabeça aos pés, como eu gosto de fazer quando ela viaja… O mínimo que ela ia achar é que eu sou gay, que enlouqueci ou as duas coisas juntas… Era separação na certa, com todo o terror que um episódio desses envolve…”
- “Imagine o que os meus colegas de trabalho diriam se me vissem montada, do jeito que eu gosto de andar…”
- “Imagine a opinião dos meus vizinhos ao meu respeito, se por acaso me encontrassem vestido de mulher”…
Essas preocupações são nada, para quem já passou pela experiência de afirmar-se como SER HUMANO, assumindo diante de si mesmo e do mundo todas as limitações, possibilidades, virtudes e deficiências que a condição de SER HUMANO acarreta.
Contudo, para quem ainda disputa com Deus para ver quem pode ser “mais perfeito” e mais “isento de mácula”, como é o caso da maioria dos transgêneros que vivem trancados nos seus armários, o simples fato de imaginarem que suas “tristes máscaras podem cair” deixa-os completamente perdidos, confusos e atordoados. Sem perceberem que, se isso acontecesse, tudo que o mundo veria seria apenas A SUA PRÓPRIA VERDADE, mantida debaixo de uma mentira social.
Nenhum transgênero precisa revelar-se a quem não queira. Mas é fundamental que se revele às pessoas que vivem próximas de si. Esse simples expediente pode fazer com que sua vida mantenha um padrão mínimo de dignidade e conforto, coisas impensáveis caso ele não consiga se comunicar com o pequeno mundo à sua volta, constituído por pais, esposas, namoradas, filhos, amigos e companheiros de trabalho.
Mas revelar ao mundo a nossa identidade transgênera não é uma tarefa fácil. Para a maioria, é a própria “visão do inferno” imaginar que outras pessoas, especialmente aquelas que a gente mais ama, possam julgar-nos sexualmente depravados e moralmente decaídos ao saberem que a gente gosta de se vestir de mulher.
Diante da vergonha e do ridículo que “poderiam” passar, a maioria mantêm-se presos a vida toda, trancados em seus “closets” e vivendo uma existência absolutamente vazia e miserável.
Acontece que a realidade tem provado ser muito diferente do “inferno dantesco” que atormenta os transgêneros ainda “armarizados”. Até hoje, eu não cruzei com nenhuma pessoa transgênera que tenha se queixado da sua vida pós-armário. Todas as pessoas transgêneras que decidiram “revelar” ao mundo (leia-se: ao seu mundo mais próximo) a sua condição, obtiveram sucesso em sua empreitada. Na maioria, aumentaram em muito o respeito pessoal, o carinho e a aceitação que desfrutavam junto aos seus entes queridos. Assim como notei que, os poucos que dizem “ter se dado mal” com a revelação na verdade não se revelaram por vontade própria e no tempo devido, mas foram “descobertos”, geralmente de modo bastante inconveniente.
Quem já se revelou, garante que não há nada do que se arrepender, mesmo quando não houve exatamente o tipo de aceitação e entendimento que a pessoa esperava. Nesse caso, a revelação foi um momento de cair as máscaras, pois também não é possível a gente viver tanto tempo enganado a respeito de pessoas que a gente pensa que nos amam e nos aceitam como a gente é…
Portanto, se você ainda continua “esperando uma chance” para se revelar, não pense duas vezes: – respire fundo e revele-se agora mesmo. Boas oportunidades a gente é quem cria.
 By Leticia Lanz

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