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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Bissexual casado diz sentir mais prazer com outro homem


A bissexualidade consiste na atração por pessoas tanto do mesmo sexo quanto do oposto, servindo portanto de um quase meio-termo entre o hétero e o homossexual. O número de indivíduos que apresentam comportamentos e interesses de teor bissexual é maior do que se imaginava, num primeiro momento.

Um estudo mais antigo, no ano de 1948, através do trabalho de Alfred Kinsey, descobriu que 46% da população masculina tinha apresentado tanto atividades heterossexuais como homossexuais, ou interagido com às pessoas de ambos os sexos, durante da sua vida adulta. O The Janus Report on Sexual Behavior, publicado em em 1993, mostrou que 5% dos homens e 3% de mulheres se consideravam bissexuais. A seção 'Saúde' do The New York Times declarou que 1,5% de mulheres americanas e 1,7% de homens americanos identificavam-se como bissexuais. Outro trabalho, mas aí realizado em 2002 nos Estados Unidos pelo National Center for Helath Statistics revelava que 1,8% dos homens e 2,8% das mulheres com idade entre 18 e 44 anos se consideravam bissexuais.

Um estudo amplamente divulgado, publicado em 2005, feito por pesquisadores da Nortwestern University, dos Estados Unidos, relatou que em relação à excitação sexual e atração erótica, a bissexualidade masculina existe e pode ser comprovada. Mas aquele estudo pareceu também apoiar o estereótipo de homens bissexuais como homossexuais enrustidos. Porém em publicação no último mês de agosto, pesquisadores desta mesma universidade encontraram evidências científicas de que alguns homens que se identificam como bissexuais são, de fato, sexualmente excitados por homens e mulheres.

(Bissexual é aquele que tem atração por pessoas dos dois sexos.Foto meramente ilustrativa)

BISSEXUAL

Falamos com um bissexual que aceitou nos conceder a entrevista. Casado há mais de 10 anos, morador de Lajeado, pais de dois filhos, com uma idade entre 30 e 40 anos, ele conta como foi descobrir a sua bissexualidade aos 18 anos. “Eu tinha uma namorada que era bissexual, pra mim foi o choque na ocasião. E ela insistiu que eu deveria me relacionar com mais alguém junto. E eu aceitei e acabei me relacionando com ela e com mais um homem. E o fato é que eu gostei. Depois a gente fez com mais uma mulher junto e eu acabei descobrindo que o contato sexual erógeno é muito maior sendo também penetrado. A primeira experiência foi um rapaz fazendo sexo anal em mim e foi uma coisa bem prazerosa. Fui vendo que eu não tinha uma preferência por homem ou por mulher”, lembra. Sua mulher sabe desta sua dupla atividade. “Aquilo foi ficando insustentável. No início eu fui fazendo sem a minha mulher saber. A vontade sempre era de me relacionar com outro homem. Até que eu falei que eu tinha esta dupla vontade, convidei ela para ter uma relação com outro homem junto e outra mulher, mas ela não quis. Foi muito difícil. Ela não aceitou muito bem isso no início. Ela preferia ser traída por uma mulher. Mas hoje ela não enxerga mais isso como uma traição. Ela também tem a liberdade de se relacionar com outros homens, mas ela não quer. Ela só me impõe condições. Que eu não a exponha e que eu não me relacione com ninguém de forma imprudente para eventualmente ter algum tipo de doença ou coisa parecida”, relata.

Segundo ele, a pessoa precisa ter uma cabeça aberta para tal relacionamento. “Se tu é do amor romântico, tu nunca vai aceitar que a pessoa que tu ama, tenha prazer sexual com outra pessoa. Até dizem, inclusive, que esse é o sexo do futuro”, projeta. Ele acredita que cerca de 30 pessoas, entre amigos e familiares, sabem da sua condição e explica porque não se assume para a sociedade. “É que a sociedade é muito preconceituosa. Não comigo, mas com a minha mulher e meus filhos. Eles vão acabar sofrendo com isso. Ainda não estamos em tempo de liberdade”, lastima ele que sente mais prazer com homem. “Eu sinto mais tesão quando eu faço s(sexo) com homens, tanto ativo como passivo. Mas se fosse pra escolher, com certeza eu ficaria só com a minha mulher”, afirma.

Ele comenta que atualmente tem um relacionamento fora do casamento com outro homem casado. “Eu tenho uma situação bacana com um amigo meu, faz algum tempo. E ele também é casado e tem filhos e tal. A gente não tem que fazer isso toda a semana. Surge uma oportunidade legal e a gente faz. Nós somos os quatro amigos e todos sabem dessa situação”, revela. Ele defende aquilo que chama de poliamor. “Se eu posso amar dois irmãos ao mesmo tempo, ou dois filhos ao mesmo tempo, eu posso também amar duas pessoas ao mesmo tempo. Depende o que você defina por amor e que tipo de amor”, destaca.

Ele diz não trair sua esposa com outras mulheres. “Minha esposa me da tudo o que eu quero. Por que eu vou trair ela com outras mulheres? Aí eu vou estar traindo ela. Tudo que eu preciso ela me dá. A gente tem uma relação sexual boa”, diz. Ele relata que teve relação com seis homens diferentes, normalmente com uma duração maior, sendo a maioria da região. Sua principal preocupação é revelar isso aos seus filhos. “Essa é a situação que no momento me preocupa. É a única. A mim e a minha mulher também. Agora eu não vejo como não contar para os meus filhos. Isso vai ter que ser uma realidade, só tem que ser no momento certo”, revela. Estima a população bissexual no Vale do Taquari. “Eu te diria que é o que mais tem. No mínimo mais de 200 que eu sei. Se botasse uma estampa na testa de quem é bissexual ou de quem se relaciona com pessoas do mesmo sexo, nós iríamos ter uma surpresa enorme na nossa cidade. Eu acho que o número de bissexuais é maior do que de gays. Dizem que 10% da população é gay. O número é muito maior do que isso”, afirma.
O bissexual fala se existe algum perfil para o grupo. “Acho que 
quanto mais esclarecida a pessoa é, quanto mais acesso ao conhecimento ela tem, mais probabilidade existe”, informa. Explica de onde vem esta atração pelos dois sexos. “Ninguém vai gostar de pessoas do mesmo sexo porque quer. É porque tem algum estímulo. Ninguém opta, e simplesmente diz agora eu quero ser gay ou bissexual”, enfatiza. Segundo ele, a maioria dos bissexuais não relata a verdade para as companheiras. “Absoluta convicção: a maioria não fala. É mínimo o número de pessoas que abre isso para sua companheira”, cita


O psiquiatra Alfredo Jorge Bergesch explica como vê a bissexualidade. “Existem pessoas que se dizem bissexuais. É difícil de acreditar realmente que possa haver uma preferência por igual. Será que esse sujeito não é um homossexual que está com medo de enfrentar o preconceito? Às vezes a pessoas acaba tendo uma vida dupla por medo de enfrentar o preconceito”, sustenta.

O bissexual concorda em parte. “Ah, isso com certeza tem aos montes”, frisa. Porém contrapõe, afirmando que não é uma regra geral. “Eu tenho certeza que muitos homossexuais são mais machos que muitos heterossexuais. Se não existisse a bissexualidade, não existiria tanta gente que a praticasse. O psiquiatra pra dizer isso tem que ter praticado. Se ele não praticou como é que vai fazer uma afirmação sobre algo que nunca vivenciou? Tem pessoas que se permitem viver, essa é a diferença. Eu me permito viver”, frisa.

O psiquiatra Alfredo Jorge Bergesch (47), atua há 20 anos na área, com média de um homossexual atendido por ano, sendo a maioria homens. Ele compara a homossexualidade dos anos 90, quando começou, com a atualidade. “Ainda havia aquele tipo de mãe ou de pai que ligava perguntando sobre tratamentos, se era possível fazer uma transformação. Hoje em dia não, as pessoas falam espontaneamente, sem maiores constrangimentos”, relata. Comenta o que os gays buscam no consultório. “Eles vêm por conflitos como qualquer pessoa. Porque terminaram um relacionamento, ou porque estão sofrendo algum tipo de discriminação. Principalmente no caso do homem, o pai não aceita e esse é o sofrimento principal”, informa. Ele fala dos traumas que os homossexuais podem levar para a sua vida. “Acaba desenvolvendo uma tendência meio paranóide, de desconfiança por se sentir discriminado”, diz. Ele acredita que hoje esteja mais fácil de se assumir, porém tenta explicar a homofobia no Brasil. “São pessoas más, que procuram extravasar a agressividade delas”, diz. E levanta uma outra hipótese. “Talvez tenham medo da própria homossexualidade latente”, comenta.

By Independente.com

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